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Ataques cibernéticos ordenados por governos ou apoiados por governos acontecem diariamente no mundo, sejam com objetivo de espionagem, roubo de dados ou mesmo visando retardar ou demover desenvolvimento de tecnologias que sejam prejudiciais aos interesses dos países.

O início da invasão russa a Ucrânia reconhecida oficialmente pelo governo local nesta quinta-feira 24 de fevereiro, foi precedida e muito provavelmente irá ser acompanhada de ataques cibernéticos russos aos serviços públicos e digitais da Ucrânia.

O fato novo neste caso é que provavelmente os países da OTAN liderados pelos EUA, poderão pela primeira vez utilizar suas armas digitais para complementar ou mesmo que impor fortes sancões a Rússia, de modo a sufocar a economia, os serviços públicos e essenciais do país, obrigando o presidente Putim a recuar.

Nas últimas semanas vários sites e serviços digitais ucranianos vinham sofrendo com ataques cibernéticos, que ao menos oficialmente não tinham como origem o governo russo e seu arsenal cibernético.

A CNN noticiou que uma ferramenta de eliminação de dados foi encontrada em centenas de computadores na Ucrânia, levantando suspeitas de que a Rússia iniciará uma escalada digital ao território ucraniano.

O presidente Joe Biden disse em janeiro que os EUA poderiam responder as ações russas com tecnologia cibernéticas próprias se Putin realizasse ataques cibernéticos na Ucrânia.

O que sabemos é que os países possuem hoje verdadeiros exércitos cibernéticos, com tecnologias conhecidas e outras ainda não utilizadas de ataque e defesa digital, sendo Estados Unidos, Israel, China e a própria Rússia considerados os exércitos digitais mais bem preparados do mundo.

A Casa Branca se adiantou em culpar a agência de inteligência militar da Rússia, a GRU, por esses ataques, conhecidos como ataques de negação de serviço (DDoS) de distribuição porque sobrecarregam os servidores de computador com tráfego falso e deixam os sites offline.

Para quem trabalha com tecnologia da informação, especialmente segurança da informação que é o tema que acaba dominando a muitos dos debates e desafios diários, é quase que automático enxergar que os riscos digitais são tão grandes ou maiores que os riscos tradicionais, seja em uma guerra como a que se inicia, seja em um comparativo de um pandemia como a do COVID x uma pandemia de vírus digitais.

Não vou aqui propor nenhuma teoria complexa, mas pensemos por alguns minutos em uma “paralização da internet” no Brasil, em um cenário onde mais de 80% das transações financeiras e comerciais dependem de conectividade. Seria impossível ir ao mercado fazer compras com cartão ou pix, o mercado provalmente não conseguiria utilizar o sistema de vendas, a nota fiscal não seria emitida. Ou seja, a não ser que você e uma parte da populaçao ainda tenha algum dinheiro em papel guardado no cofre ou debaixo do colchão, seria impossível que a economia funcionasse.

Sim, Paralizar toda a internet de um país seria extremamente improvável, não impossível, mas em um cenário de guerra que estamos vendo na Ucrânia x Rússia, não se pode descartar a possibilidade.

As autoridades dos EUA já demonstraram estar preocupadas que as redes de transporte e a mídia de transmissão na Ucrânia, menos protegidas e redundantes, possam ser paralisadas por ataques cibernéticos.

A Rússia sabidamente possui uma infraestrutura mais robusta, redundante e segura, pelo menos segura para o arsenal digital que conhecemos. Mas nada impede também que os países aliados a OTAN utilizem tecnologias e recursos ainda não conhecidos, testados apenas em seus laboratórios com objetivo e tornar indisponível total ou parcialmente o sistema de comunicação russo, ou mesmo o sistema financeiro, os serviços públicos digitais ou outros serviços essenciais com objetivo de pressionar Putin a recuar.

Na minha visão ações como essa, junto com as prometidas sancões comerciais, financeiras e políticas mencionadas por Biden e outros líderes, podem sim colaborar para uma guerra menos sangrenta, mais rápida e que venha a se configurar como a primeira grande utilização oficial de “armamento cibernético”.

De outro lado, os Estados Unidos tem a economia mais conectada e digitalizada do planeta, atacar digitalmente e abertamente a Rússia, poderia trazer riscos de que os russos ou que aliados formais ou não como Irã ou mesmo a China, façam o mesmo contra os EUA.

O que sabemos é que ataques cibernéticos possuem diversas “vantagens” quando comparados a uma invasão utilizando soldados, tanques e aviões,  os ataques cibernéticos são extremamente escaláveis, eficazes, baratos e principalmente podem ser negáveis em um comunicado oficial a imprensa.

O fato é que a história está sendo escrita diante de nossos olhos. Para o bem ou para o mal a digitalização está alcancando também as guerras e será decisiva na disputa pelo poder econômico, político e territorial.

Antonio Luiz Alves, é Fundador e Diretor da Infomach, trabalha com tecnologia e segurança da informação há mais de 20 anos. https://www.linkedin.com/in/antonioluiz7/